Em um mundo obcecado por aprovação e validação externa, The Courage to Be Disliked (no Brasil, A Coragem de Não Agradar), de Ichiro Kishimi e Fumitake Koga, chega como um soco de liberdade. Publicado em 2013 no Japão e traduzido para o inglês em 2018, esse best-seller usa a psicologia de Alfred Adler para desafiar ideias arraigadas sobre felicidade, relações e autoestima. Escrito como um diálogo entre um jovem questionador e um filósofo paciente, o livro é ao mesmo tempo acessível e transformador. Por que precisamos agradar a todos? Como encontrar coragem para ser quem somos? Nesta resenha, exploramos essa obra que une filosofia e desenvolvimento pessoal em uma mensagem poderosa.
O Contexto: Adler e uma Nova Visão da Vida
Alfred Adler (1870-1937), contemporâneo de Freud, divergiu do mestre ao rejeitar a ênfase no passado e nos traumas. Para Adler, a vida é sobre o presente e o futuro — não somos prisioneiros da infância, mas criadores do nosso destino. Kishimi, um filósofo japonês, e Koga, escritor, transformam essas ideias em um diálogo fictício que reflete a tradição socrática: perguntas incisivas levam a revelações profundas.
Lançado em uma era de redes sociais e ansiedade coletiva, o livro ressoou globalmente por sua proposta contraintuitiva: a felicidade não depende de sermos amados por todos, mas de aceitarmos que nem todos nos amarão — e está tudo bem.
A Essência do Livro: Liberte-se da Aprovação

A Coragem de Não Agradar é estruturado como uma série de cinco encontros entre o jovem, cheio de dúvidas, e o filósofo, que destrincha a psicologia adleriana. O cerne é simples, mas radical: você não vive para atender às expectativas dos outros. Aqui estão os pilares da obra:
- Separação de Tarefas: Não é seu dever fazer os outros felizes, nem deles fazer você feliz. Cada um é responsável por suas próprias emoções e escolhas. Exemplo: se alguém não gosta de você, é problema dele, não seu.
- Rejeição ao Trauma: Adler nega que o passado determine quem somos. Se você se sente preso, é porque escolheu carregar esse peso — e pode escolher largá-lo.
- Vida no Agora: O futuro é maleável, e o presente é o que importa. Focar em “e se” ou “por que eu” é uma distração.
- Coragem para Ser Desaprovado: A liberdade vem quando paramos de buscar aceitação universal e vivemos de acordo com nossos valores.
O diálogo culmina em uma visão de comunidade: contribuir para os outros sem esperar recompensa é o caminho para o sentido da vida. É uma filosofia que exige coragem, mas promete leveza.
Pontos Fortes: Uma Libertação Prática
O formato de diálogo é um acerto. As perguntas do jovem ecoam dúvidas comuns — “E se me rejeitarem?”, “Como ignoro o que dizem?” —, enquanto as respostas do filósofo são claras e aplicáveis. A escrita é fluida, quase como uma conversa com um mentor sábio, tornando ideias complexas digeríveis.
A mensagem central é libertadora. Em um mundo onde likes e elogios ditam a autoestima, o livro nos dá permissão para sermos imperfeitos e humanos. Para o desenvolvimento pessoal, oferece um roteiro prático: pare de se comparar, assuma suas escolhas e viva no presente. Para a filosofia, resgata Adler do esquecimento, mostrando sua relevância frente a Freud e Jung.
Pontos Fracos: Simplicidade Excessiva?
Nem tudo é perfeito. A rejeição total ao passado pode soar simplista. Embora Adler tenha razão em focar no “agora”, traumas reais — como abuso ou luto — não se dissolvem apenas com força de vontade, algo que o livro minimiza. O tom didático, às vezes repetitivo, pode cansar leitores que já conhecem psicologia ou filosofia.
Além disso, a ênfase na autonomia ignora contextos de opressão. Dizer “separe as tarefas” a alguém em uma cultura repressiva ou situação de poder desigual pode parecer ingênuo. O livro brilha mais para quem já tem certo controle sobre sua vida.
O Legado: Um Convite à Coragem
A Coragem de Não Agradar tornou-se um fenômeno, vendendo milhões de cópias e inspirando debates sobre felicidade e autenticidade. Não é um manual passo a passo, mas uma mudança de perspectiva que ressoa em tempos de pressão social. Adler, através de Kishimi e Koga, nos lembra que a liberdade é um ato de bravura — e que nem todos estão prontos para ela.
Para o desenvolvimento pessoal, é um empurrão para largar a necessidade de aprovação. Para a filosofia, é uma introdução acessível a um pensador subestimado, com ecos de estoicismo e existencialismo em uma embalagem moderna.
Por Que Ler “A Coragem de Não Agradar”?
Se você já se sentiu sufocado por expectativas ou preso ao julgamento alheio, este livro é um respiro. Com cerca de 250 páginas (edições da Sextante no Brasil), é uma leitura rápida que deixa marcas duradouras. Não promete fórmulas mágicas, mas um convite a viver com mais leveza e ousadia.
O que você deixaria de fazer se não precisasse agradar ninguém? Compartilhe nos comentários e descubra com Adler o poder de ser você mesmo!